Nas
últimas duas postagens eu falei sobre os "discursos religioso" para
discutir o que agora eu estou chamando de "jogo das manipulações".
Nas duas postagens, descrevi os quatro tipos de manipulações possíveis, com a
finalidade de desenvolver nossa capacidade de avaliar os discursos religiosos e
entender como os enunciadores dos tais discursos tentam manipular seus
destinatários. Agora vou fazer uma rápida análise de um breve discurso
religioso, um "twitter" de Edir Macedo. Minha intenção não é aprovar ou
desaprovar, julgar e condenar ninguém, mas estudar como se dá a retórica, seus
recursos linguísticos para tornar convincente o enunciado. Vamos ao texto:
“Quem
raciocina não se satisfaz com migalhas. Pensa grande. Pensa de acordo com os
pensamentos do Todo-Poderoso”
Aqui,
primeiro o destinatário evoca o tema do “raciocínio” como virtude, um conceito de
valoração positiva no seu contexto sócio-cultural. Ou seja, ele se dirige a um
público que considera raciocinar uma virtude, algo desejável. Depois, ele fala
que o raciocínio leva o ser humano a desejar coisas grandes, o que nós poderíamos
associar a seus próprios empreendimentos religiosos, que sem dúvida, estão
entre essas coisas grandes de que ele fala. Assim, Edir Macedo tenta redefinir
o conceito de “raciocínio” para seu público, faz seu leitor ou ouvinte avaliar
sua própria “racionalidade” a partir do tamanho de seus desejos pessoais.
Obviamente, Macedo legitima indiretamente sua atividade profissional e suas estratégicas
religiosas, ao mesmo tempo em que deslegitima outras, que porventura não
considerem essas “grandezas” coisas desejáveis.
Por
fim, ele fala que pensar assim como ele é estar em conjunção com os pensamentos
de Deus, o que dá ainda maior força retórica às suas afirmações. Então, ele
tenta manipular seus destinatários com a chamada “tentação”, fazendo-os desejar
a “racionalidade” e a adequação com os pensamentos do Todo-Poderoso, um sujeito
que ele silenciosamente diz conhecer melhor que outros. Depois, ele oferece um
caminho prático para que estes destinatários alcancem os valores que passaram a
desejar, e este caminho é o da grandeza, o da insatisfação com aquilo que ele
chama de “migalhas”.
Em
nenhum momento Edir Macedo fala de sua religião, de sua igreja, mas não restam dúvidas
de que este discurso está em perfeito acordo com esses empreendimentos. Temos um
discurso capaz de atingir com eficácia aqueles que compartilham de seus valores,
que também consideram as “grandezas” coisas boas, que não priorizam outras virtudes
opostas como a “humildade”, a “simplicidade” ou a “igualdade”. Ele toca diretamente
a ambição humana por status social, por poder, por prestígio, e diz que Deus também
compartilha do mesmo quadro de valores, permitindo-nos unir a religião e a ambição
num mesmo projeto de vida.
2 comentários:
como seria bom se pudessem excluir os ensinamentos de Jesus....
Assim, o que ensinam esse pessoal faria mais sentido pra humanidade.
Como diria o Boris: " ISSO É UMA VERGONHA"
Seria interessante que todo o que frequenta algum local "religioso", buscasse entender o que ensinam esses Tentadores e confrontar com os ensinamentos de Jesus, a tentação de Jesus no deserto fala muito... quero aqui usar parte do texto do Prof. Anderson, que cai muito bem, quando Jesus é tentado "vimos é que em nenhum momento Jesus parece ameaçado pela fartura de pães, pela honra de ser servido, ou pelo poder político".
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