terça-feira, 23 de agosto de 2011

NOVO ARTIGO PUBLICADO: EMPRÉSTIMO NÃO É CARIDADE (MT 18.21-35)

Temos novidades!



Agora faço parte do corpo editorial da Revista Âncora de Teologia, e é com alegria que venho divulgar a publicação no novo número da revista, que disponibiliza artigos de qualidade para serem baixados em pdf.



Nesta edição, também publico um novo artigo meu, uma análise exegética de Mateus 18.21-35, texto que fala sobre o perdão de dívidas. O texto é útil para os interessados em Mateus, para estudantes de exegese bíblica, e para aqueles que querem saber mais sobre o tema do perdão, que é muito relevante nos discursos de Jesus.



Além do meu texto, há outros que exibem exegeses do Antigo Testamento, e um que trata de 1Enoque, texto não canônico que vale a pena conhecer.




Acessem a revista em: http://www.revistaancora.com.br/

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

NOVO ARTIGO PUBLICADO - MITOLOGIA, HISTÓRIA E EXEGESE

Quero informar a publicação de um novo artigo meu, desta vez, na Revista Theologando, da Fonte Editorial.

No artigo trabalhei as definições de mitologia, história e tentei oferecer um panorama de como essas definições influenciam a interpretação bíblica. As conclusões podem ser polêmicas, não convencionais, mas as sugestões finais que o artigo traz certamente serão muito úteis para exegetas, professores e pregadores.

A revista acaba de sair, e não possui versão on-line. Assim, para ler o artigo deve-se adquirir o exemplar impresso, que conta com vários artigos, incluindo excelentes autores como Júlio Zabatiero e José Adriano. Aos interessados, entrem em contato com a Alessandra ou o Eduardo da Fonte Editorial (alessandra@fonteeditorial.com.br, eduardo@fonteeditorial.com.br).

LIMA, Anderson de Oliveira. Mitologia, História e Exegese: Atualizando Conceitos para uma Nova Leitura de Textos Antigos. In. Theologando, ano V, n. 5. São Paulo: Fonte Editorial, 2011, p. 45-58.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

SOBRE O TRABALHO: UMA PEQUENA AUTO-BIOGRAFIA PROFISSIONAL

O tema que pretendo abordar é delicado, pois estou ciente de que algumas das opiniões que vou expressar são contrárias ao “censo comum”. Ao falar dele é inevitável que eu também trate de minha vida pessoal, e isso me faz lembrar de momentos não muito agradáveis. Vou falar sobre o trabalho.

Minhas idéias a respeito nasceram de reflexões pessoais, da observação da vida em sociedade. Hoje mesmo, antes mesmo do meu desjejum já olhava para a rua de meu apartamento pouco antes das 7 da manhã e pensava na suposta necessidade de trabalho. Vi o grande fluxo de pessoas que saía de casa no frio, se dirigindo ao metrô para espremidos chegarem aos seus locais de trabalho. A “Radial Leste”, via que permanece movimentada por todas as 24 horas do dias, é a principal “paisagem” que vislumbro. Foram essas imagens que suscitaram em mim, uma vez mais, estas antigas idéias.

Sei que há um ditado popular que diz que “o trabalho enobrece o homem”, mas será verdade? Esse tipo de vida que as pessoas estão levando é enobrecedor? Honestamente, tenho dúvidas. Vejo que a grande maioria das pessoas trabalha (ou se locomove até o trabalho) durante todas as horas de sol que a semana lhes dá; sobram-lhes algumas poucas horas da noite, para um jantar, uma conversa em família, uma brincadeira com os filhos, para um rápido passeio, e para um momento de amor. Alguns acabam desperdiçando estes prazeres limitados com brigas, novelas, bebidas etc., mas esse assunto fica pra outra hora. Logo chega outra vez o cansaço, o sono, e a preparação para mais um dia de trabalho. Assim se vão pelo menos cinco dias da semana, às vezes seis, às vezes mais... E finalmente chega o fim de semana, o feriado, as férias, e então poderão gastar o dinheiro que ganharam e finalmente aproveitar o melhor da vida. Ou seja, estamos gastando nossos poucos dias no trabalho, e nos contentando com poucos momentos de verdadeira satisfação. Isso é enobrecedor? Não estou certo disso.

Sempre fui realista demais para encontrar satisfação na idéia de que terei minha casa própria. Sei que vou morrer e a casa, seja própria, seja de aluguel, vai apodrecer aí. Não acho que vale a pena perder a vida para dizer que conquistei qualquer coisa material na minha velhice. Então, desde cedo tive problemas com o trabalho, com a exigência social de que eu me estabelecesse profissionalmente. Eu demorei mais que a maioria dos amigos da mesma idade para comprar um carro, e até hoje sou estudante. Até na mitologia bíblica o trabalho é uma maldição, e não uma dádiva. Em Gênesis o homem só trabalha porque é obrigado, porque está pagando pelos seus erros. O trabalho, ali, é uma punição, e confesso que esta mesma impressão eu tive muito antes de conhecer a Bíblia.

Aonde eu quero chegar com isso? Será que quero agora incentivar as pessoas a abandonarem suas profissões? Claro que não. Eu encontrei uma solução pessoal para este problema, e é ela que quero compartilhar com meus leitores. A expectativa que tenho é a de que alguns, que também sofrem com a imposição social do sucesso profissional, se identifiquem com minhas palavras e encontrem um caminho mais adequado e que lhes traga felicidade.

Usei o mesmo modo realista de pensar para concluir que eu não ia conseguir mudar as coisas. As pessoas continuarão “se matando” no trabalho, e se contentando com aquelas poucas faíscas de vida. Mas eu não queria isso pra mim. Então, a solução era aderir ao modelo, trabalhar muito, fazer bem o que fazia, procurar destacar-me, obter sucesso profissional... porém, eu decidi fazer isso numa profissão que para mim fosse uma “diversão”. Esta é a solução que encontrei, fazer do trabalho um prazer; e na juventude, só encontrei prazer tocando violão. Dediquei-me à música por anos, tornei-me bacharel em violão erudito, estudei na Escola Municipal de Música de São Paulo, e me tornei professor. Foram mais de dez anos, e esta profissão já não me trazia a mesma alegria. Sempre ganhei pouco com esta atividade, e no ramo da música erudita, as exigências são tantas que o prazer torna-se rapidamente numa tortura. Aquilo que antes me dava prazer se tornou um peso, consequentemente, era hora de mudar de vida.

Continuo tocando violão hoje, e gosto muito. Também não me arrependo de ter cursado música. Digo que com meus 18 anos, se eu não tivesse estudado música, eu não teria estudado nada (ou teria feito outro curso que hoje não seguiria). Por conta de minha opção religiosa eu comecei aos poucos a substituir a música pelo estudo da Bíblia. Hoje posso dizer isso de maneira clara. Não era a igreja que me agradava; não eram as reuniões, que na verdade me desagradam. Eu gostava de algumas pessoas, e gostava da Bíblia. Fui estudando, fazendo cursos, lendo muito, fiz uma pós-graduação em Bíblia, mestrado, e hoje faço doutorado. Mudei de profissão, e novamente as muitas horas que passo lendo, traduzindo, interpretando, escrevendo e ensinando, se tornaram momentos de grande satisfação.

Falando assim resumidamente da minha vida profissional, você deve imaginar que as questões econômicas sempre foram um problema pra mim. Foi o acaso. As coisas que me dão prazer não me dão dinheiro. Mas acho que isso não seria assim com todos. Até brinco com os estudantes de teologia dizendo que para uma boa carreira como teólogos eles devem evitar a todo custo se casar com pessoas que conheceram nas faculdades de teologia. Afinal, dois teólogos numa mesma família é um problema. Por isso me casei com a Angela, que não quer nem saber de teologia.

Acho que o leitor entendeu minha mensagem: Eu gostaria muito de ver as pessoas trabalhando, ganhando dinheiro, realizando seus sonhos, de uma maneira que não lhes custasse a semana. Deixar de trabalhar continua sendo “vagabundagem”, eu não incentivei isso; mas procuro demonstrar que é possível termos prazer enquanto trabalhamos. Podemos ser felizes no trabalho, e não só no lazer. Para isso, a prioridade no momento de escolher uma profissão deve ser sua afinidade com aquela área (afinidade é pouco, talvez devêssemos dizer paixão), e não as possibilidades financeiras. Depois de feita sua escolha (mas sempre há possibilidades de mudar, de recomeçar), é hora de se dedicar. Não há desculpas para profissionais preguiçosos, displicentes, incompetentes. Não tenho filhos, mas um dia vou dizer pra eles (ou para algum sobrinho ou vizinho), que o importante não é o que se faz, mas como se faz. Se você escolheu uma profissão incomum, não precisa se envergonhar quando as pessoas lhe perguntarem se você só canta, se não trabalha (por exemplo); vergonha é só cantar e ainda cantar mal.


Imagem: Pieter Aertsen: Market Scene (1561)


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

JESUS EM CAFARNAUM E SEUS PRIMEIROS SEGUIDORES: MATEUS 4.12-22

Quando João Batista é preso, Jesus deixa a Judéia e volta para a sua terra natal, a Galiléia. Porém, Jesus já não vai para Nazaré, mas vai para Cafarnaum (v. 12-13), que talvez fosse uma alternativa economicamente mais viável para Jesus e sua família naqueles dias (veja: Lima, 2010, p. 8-10). É importante repetir o nome de Cafarnaum, que será verdadeiramente a sede do ministério de Jesus ao longo do evangelho todo. Em Cafarnaum Jesus estará em casa, e veremos como astutamente aparecerão oposições de significado entre este e outros índices topográficos. Jesus começa a pregar em Cafarnaum (v. 17), e neste ponto é interessante notar que ele repete literalmente as palavras que resumem a pregação de João Batista, seu mestre transformado em mero introdutor. Quem sabe, Jesus tomara conhecimento de sua missão através de suas experiências místicas no batismo, e agora começava a trabalhar por conta própria seguindo rigorosamente o exemplo de seu predecessor? Será que não há no evangelho um plano evolutivo para Jesus, sua compreensão de si mesmo e de seu ministério?

Em Cafarnaum Jesus começa a reunir seus discípulos, que são chamados a renunciar os vínculos profissionais, sociais e familiares, e aderir ao itinerantismo (v. 18-22). Os homens chamados são: Pedro e André, e Tiago e João. Sabemos que dentre eles sairão os apóstolos cujos nomes o Evangelho de Mateus e o cristianismo primitivo de muitas regiões mais privilegiariam. E não é por acaso que eles são logo apresentados como bons exemplos. Ao lado de Mateus (veja Mateus 9.9), esses homens aceitam o chamado radical de Jesus, e não olham para os tesouros terrenos que prendem muitos. O exemplo negativo que se opõe a eles é o “jovem rico” de Mt 19.16s, que como veremos, recusa este mesmo chamado por possuir muitas propriedades. Além do “jovem rico”, veremos outros dois exemplos negativos no capítulo 8, dos versículos 18 a 22. Este ideal de discípulos completamente desprendidos dos bens materiais perpassa todo o Evangelho de Mateus, como veremos, e por isso sabemos que essa breve apresentação dos primeiro discípulos de Jesus, é bastante honrosa e serve como um exemplo permanente para os leitores implícitos.[1]


[1] Aqui empregamos um termo próprio da Narratologia, que é explicado nas chamadas “instâncias narrativas” (Marguerat; Bourquin, 2009, p. 84-86). Em resumo, no lugar da busca por um autor real e sua intenção, fala-se da busca pelo “autor implícito”, que é o autor/personagem que o próprio texto nos permite encontrar. Da mesma forma, já não nos perguntamos pelos destinatários originais de um texto, mas podemos perguntar pelo “leitor implícito”, o leitor/personagem imaginado pelo autor que é a quem ele destina seu texto.