sexta-feira, 24 de agosto de 2012

DISCURSOS RELIGIOSOS DESIGUAIS EM NOME DO AMOR

Amigos, acabo de ver uma postagem feita no Facebook, de autoria cristã evangélica, que me deixou bastante contrariado. Vou acrescentar a imagem abaixo e peço que leiam. Depois, incluo aqui os mesmos comentários que fiz ao texto na internet. Reflitam e opinem, por favor:



Meus comentários no Facebook: A honra é só para o marido? Só ele é ousado e capaz de enfrentar desafios? De que autoridade estão falando que só uma parte tem? E a esposa é uma criança indefesa agora? Acho que as intenções são ótimas, mas esse ensinamento só mantém as estruturas desiguais que a sociedade machista estabeleceu para a sociedade em geral. As diferenças existem, mas na família e no mundo, a igualdade deve ser o princípio regente. As mulheres deviam questionar qualquer tipo de pedido à "submissão" não justificada a não ser por princípios religiosos tão antigos quanto a poligamia.


Análise Crítica para o Blog:


Realmente, nota-se que o texto foi produzido com a intenção de ajudar casais a viverem de maneira mais harmoniosa. Pede-se respeito, carinho, companheirismo, demonstrações de amor... Todavia, os pedidos feitos a homens e mulheres são diferentes, e não parecem separados com base nalguma explicação psicológica. Notemos que o homem precisa ser apoiado, honrado, respeitado... O marido é um líder na família, um conquistador que enfrenta desafios e precisa de apoio para vencer corajosamente os adversários externos. Ele protege a família, cuida da esposa como se ela fosse uma criança indefesa, e merece respeito especial. Por sua vez, a esposa não parece ter os mesmos desafios, sua atuação é basicamente interna, voltada para o lar e para o marido. A mulher é fraca, precisa que outro a proteja, é dependente, e no final deve respeitar a “autoridade” do homem e não criticá-lo.
É importante ressaltar que a grande manipulação empregada é a intimidação, quando a “inquestionável” autoridade de Deus é evocada para justificar a submissão feminina.
Por fim, nos parece evidente que todo o discurso religioso trabalha pela manutenção da estrutura familiar mais tradicional em os homens são líderes das suas casas, autoridade que não deve ser discutida, apenas aceita. O papel das mulheres é cuidar do lar, servir ao marido; ela é fraca e incapaz de enfrentar os mesmos desafios, pelo que o lugar mais apropriado dela é mesmo o lar. Estamos falando de donas de casa apenas. Em suma, esses conselhos supostamente religiosos só mantêm as estruturas desiguais e machistas que o cristianismo estabeleceu para a sociedade em geral. O texto age como destinador, pedindo que os casais se submetam ao modelo tradicional de família hierarquizada e machista, e seu grande argumento é que esta é a vontade de Deus. Os destinatários cujos valores religiosos são semelhantes serão os mais facilmente manipuláveis, e quando aceitam tal contrato julgam obedecer a Deus, e não a este outro enunciador religioso e antiquado.
Se por um lado podemos dizer que eram boas as intenções, por outro podemos afirmar que o autor do texto é também alguém que foi manipulado pelo discurso religioso formulado a séculos, e que também julga ser alguém a serviço de Deus. A grande questão é pela aplicabilidade desse modelo familiar na sociedade moderna em que as mulheres não atuam exclusivamente no lar, nem são mais aqueles sujeitos frágeis, despreparados para a vida fora de casa, completamente dependentes economicamente dos seus maridos. As mulheres modernas também são confrontadas com outros contratos sociais que sugerem que elas devem ser livres das antigas opressões machistas, que elas não devem aceitar a desigualdade. Assim, a igreja evangélica expressa-se de maneira antiquada, ultrapassada, e produz mais problemas que soluções. Sem dúvida casais passam a viver de maneira mais harmoniosa frente a tais conselhos, mas no geral, o discurso evangélico vai se mostrando cada vez mais desatualizado e desnecessário diante da sociedade que o cerca, produzindo cidadãos conservadores e preconceituosos quanto aos demais, e se tornando cada vez mais depreciada. Sugeriríamos que tais empreendimentos voltados para os valores familiares se tualizassem, mas para isso seria necessário, antes de mais nada, aprender a ler a Bíblia fora da perspectiva fundamentalista que impera nesse meio religioso. Não dá mais para continuar dizendo às mulheres: sejam submissas aos homens, porque é assim que Deus quer e pronto.

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