O
exemplo abaixo foi tirado de um “blog” que defende o chamado “criacionismo
científico”, proponho que o analisemos segundo os critérios apresentados nas páginas
anteriores, sobre as estratégias dos discursos religiosos:
“MEC diz que
criacionismo não é tema para aula de ciência”. Este é o título da matéria feita
pelo Jornal Folha de São Paulo, do dia 13/12/2008, onde a secretária da
Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar, mostra a opinião do
MEC sobre o assunto, informando que não considera a teoria do Criacionismo
Científico uma ciência, tendo como base a opinião da maioria dos cientistas na
área. Leia sua declaração: "[O ensino do criacionismo como ciência] é uma
posição que consideramos incoerente com o ambiente de uma escola em que se
busca o conhecimento científico e se incentiva a pesquisa".
Opinião divergente
tem o grupo Pueri Domus Escolas Associadas, uma rede laica que reúne 160
escolas no Brasil inteiro, que apoia a exposição da teoria criacionista nas
salas de aula, e sobre o assunto vale o comentário do Lilio Alonso Paoliel-lo
Júnior, diretor de conteúdo da rede associada, informando que o ensino das duas
teorias é um benefício para promover o debate: "Negativo seria não deixar
que a discussão acontecesse. É uma questão de posição pedagógica. O conteúdo é
aceito por pais das escolas laicas e das religiosas", diz o diretor.
Como
dissemos, essa suposta notícia está postada num blog de opinião declarada a
favor do criacionismo (teoria baseada na leitura literal de relatos míticos da
Bíblia que contam como Deus criou o mundo, teoria religiosa que vê do
darwinismo evolucionista seu grande rival). Saber qual a posição do enunciador
já nos ajuda a identificar os caminhos da argumentação. Notemos que o texto
segue os critérios jornalísticos, parece imparcial, narrado em terceira pessoa,
e o narrador nunca expõe sua opinião diretamente.
Aqueles
recursos que criam a sensação de imparcialidade, objetividade, cientificidade,
estão todos presentes. Vemos toda a atenção dada aos nomes das pessoas, à data
e fonte da publicação, às instituições envolvidas. Temos também as citações, e
a primeira, que está de acordo com a posição do MEC e com “cientistas da área”,
e da secretária da educação. Nesse caso a citação é completamente
desnecessária; as palavras de Maria do Pilar não dizem nada que já não tenhamos
compreendido a partir do texto anterior. Temos aí um recurso de ancoragem do
texto com a realidade, e como leitores, sentimos que estamos sabendo das coisas
como realmente aconteceram.
Mas
o narrador quer ir adiante, quer demonstrar que há um problema na decisão dos
primeiros, então usa outra instituição, o colégio Pueri Domus que é uma
instituição de ensino voltado para crianças cujas famílias possuem alto padrão
econômico. É interessante notar que, embora essa instituição não tenha a mesma
“autoridade” que o MEC nem o conhecimento específico dos “cientistas da área”,
o narrador quer exaltar suas virtudes para fazer de sua opinião algo
convincente. Então ele usa a designação “laica”, para dizer que eles não são
cristãos fanáticos defendendo uma causa religiosa (acusação certamente
recorrente contra os defensores dessa opinião), e diz que o Pueri Domus conta
com 160 escolas no Brasil, um recurso quantitativo que procura dar importância
à instituição. Só então vemos a segunda citação, desta vez, de um representante
do Pueri Domus que apoia o ensino do criacionismo nas escolas de nível
fundamental.
O
diretor do colégio diz que seria negativo não deixar que a discussão ocorresse,
ou seja, não permitir que se ensinasse o criacionismo ao menos junto com outras
teorias supostamente mais científicas. O argumento é de caráter científico,
evoca a liberdade de expressão e o direito que temos à informação, a liberdade
de escolha. Todavia, ignora que a questão é outra; o problema é que a escola é,
na primeira opinião, lugar para se discutir temas científicos, e o
criacionismo, por não ser considerado científico por aqueles, não deve ser
discutido na escola. Claro que o direito a se discutir o tema é dado a todo
cidadão, mas noutro ambiente, quiçá, na igreja. Mas não é isso o que o texto
quer nos dizer; lendo-o, temos a impressão de que o MEC está infligindo os
nossos direitos, que há uma espécie de “perseguição” ou de preconceito contra o
criacionismo. Todavia, o que está em pauta é a cientificidade do criacionismo,
que parece ser questão resolvida para o enunciador, e que por isso apresenta a
notícia tentando defender sua causa diante de um público religioso e de
pretensões racionais.
Fonte: http://criacionismocientifico.blogspot.com.br/2008/12/saiu-na-folha-mec-diz-que-criacionismo.html
Fonte: http://criacionismocientifico.blogspot.com.br/2008/12/saiu-na-folha-mec-diz-que-criacionismo.html
2 comentários:
Anderson Lima, mestre, vejo com muita cautela esse assunto, pois entendo estado laico como um estado neutro, ou seja, um estado sem a influência da Religião, mas que não pode em circunstância alguma tomar uma posição sobre esta ou aquela linha científica.
O criacionismo não deve e não pode ser descartado como uma possibilidade, pois existem dados favoráveis em nível científico e filosófico a respeito. Como o Design Inteligente e a Complexidade Irredutível (http://www.youtube.com/watch?v=qQ6b1h6mWjg&feature=related) e as manifestações matemáticas na própria natureza (http://www.youtube.com/watch?=Lodj5UJNC1Y), ou o Bóson de Higgs, O Big-Bang que definiu a finitude do Universo estabelecendo com isso um Criador desse Universo, ou O motor do flagelo bacteriano (http://www.youtube.com/watch?v=cSA17otGUnw&feature=related). Mais de 500 cientístas assinaram um manifesto sobre suas reais dúvidas sobre o Darwinismo. E assim por diante. O problema está no quê os homens querem crer.
São milhares de evidências em favor do Criacionismo. Então, a pergunta é: "Porque insistem em desprezar as evidências do Criacionismo?" O quê há por trás disso? Mantenho minha mente aberta para receber informações que realmente sejam palpáveis e não só especulativas.
Oi Ademir!
Nesse caso, eu não quis expressar opinião. O objetivo é só mostrar como o discurso está construído. Quis mostrar como a suposta notícia é totalmente parcial, mas usa recursos da língua para disfarçar isso.
Mas obviamente tenho minhas opiniões. O darwinismo é uma teoria muito antiga, incrível no seu tempo. Hoje, certamente ela passou por muitas mudanças, e falar mal de Darwin é como falar mal de Lutero. Ambos são nomes importantes na história, mas não devemos mais levar a sério nada do que disseram. As coisas mudaram.
Mesmo assim, eu me manteria favorável ao parecer do MEC. O próprio nome criacionismo é religioso, e isso invalida-o como hipótese científica. Primeiro teríamos que provar a existência de Deus, o que não é possível. Seria melhor fazer uma leitura religiosa do Big Bang e da teoria evolucionista do que tentar negá-la.
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