quarta-feira, 25 de maio de 2011

JUÍZO CONTRA OS FARISEUS E SADUCEUS: MATEUS 3.7-12


Depois de discutir questões práticas sobre a liberdade do cristão, voltamos aos nossos comentários sobre o Evangelho de Mateus. O trabalho é longo, mas recompensador. Nas últimas seções comentadas falávamos sobre o profeta João Batista com suas ações e mensagem. Ainda há mais para dizer, agora a partir dos versículos 7 a 12 de Mateus 3. Há uma diferença entre esses versículos e os anteriores. Aqueles falavam do próprio profeta, da sua mensagem, da sua aparência, do seu ascetismo. Agora o texto dará mais espaço ao profeta, deixando-o falar do versículo 7b a 12. Porém, o narrador desta história introduz esta fala, dá lugar a ela, contextualiza-a.


No versículo 7 o narrador diz que João Batista começou a ser procurado por fariseus e saduceus. Sabemos ao sobre estes dois partidos, o primeiro, o dos fariseus, eram religiosos que nos dias de Jesus não tinham tanta influência política, e que estruturavam sua religiosidade sobre a interpretação e prática da Torah. Os saduceus eram menos numerosos, porém, mais influentes. Aparentemente estavam integrados à religiosidade centrada no Templo de Jerusalém e seus sacrifícios; não por acaso, depois do ano 70 E.C., quando os romanos destruíram Jerusalém e o Templo, os saduceus desapareceram.


É importante dizer que os fariseus e os saduceus (v. 7) não estão presentes nas versões de Marcos e Lucas. É Mateus quem dá nome às víboras e faz o profeta João anunciar juízo sobre os mesmos por meio de várias pequenas sentenças. Os fariseus são mais importantes aqui; esta é apenas a primeira indicação das diferenças e conflitos entre o grupo mateano e os fariseus que estão por trás da composição do evangelho. Este embate se intensificará no decorrer das páginas, e veremos que as inclusões mateanas visam condenar ou deslegitimar a religiosidade farisaica, que não eram importantes nos dias de Jesus, mas que estavam em rápida expansão nos dias em que Mateus escreveu seu evangelho, provavelmente entre os anos 80 e 90 E.C. Aos poucos nos aprofundaremos neste problema.


É fácil notar que temos então uma coleção de pequenas sentenças, todas anunciando juízo sobre os fariseus e saduceus, que por motivo desconhecido, procuravam João para batizar-se. Na primeira sentença, a exigência para que dêem frutos que demonstrem o arrependimento (v. 8). O evangelho acha que aqueles religiosos não estão cumprindo sinceramente a exigência de um arrependimento, pois suas obras continuam sendo más. Depois (v. 9), o texto discute a questão étnica, pois muitos dos judeus pensavam que estariam com Deus em seu reino simplesmente por serem descendentes de Abraão. Ou seja, eles criam numa predestinação, numa eleição da nação de Israel, e portanto, não dependiam de bons frutos. Mateus diz o contrário, que a descendência judaica não era sinal de “salvação”, e exige arrependimento e mudança de hábitos para todos. O versículo 10 conclui esta primeira coleção de ditos com uma analogia sobre a árvore que não dá bons frutos. Obviamente, tal árvore é como aqueles religiosos que não dão bons frutos e que serão cortados.


No versículo 11 João legitima o ministério de Jesus. Ele é maior que João, e é ele quem apocalipticamente traria juízo sobre a terra. Embora seja difícil explicar, a parte “b” do versículo ainda está relacionada a este juízo. Jesus batiza com o Espírito Santo e com fogo: o fogo é certamente uma imagem negativa, de punição, mas o batismo com o Espírito não está claro. Talvez seja a dádiva para aqueles que tiveram bons frutos e que serão poupados do fogo. Outra imagem é evocada para falar deste juízo, desta separação entre maus e bons no “Dia do Senhor”, e o versículo 12 diz que ele então limpará sua eira, juntando os “justos”, o trigo, no celeiro, enquanto que os “ímpios” seriam queimados como palha no fogo que nunca apaga.


Para encerrar nossos comentários, sugerimos que o leitor comece a prestar atenção às imagens apocalípticas de Mateus. O Senhor vem ao mundo para limpar sua eira, para purificar a terra da injustiça. Mateus segue a expectativa herdada de Isaías de um Reino de Deus na terra, mas numa terra restaurada, purificada. Não há arrebatamentos, novos céus nem ruas de ouro. Esta imagem, contrária à expectativa da maioria dos cristãos de hoje, ficará clara ao longo do nosso estudo; mas não vá generalizando as coisas, a Bíblia traz várias formas de esperança, que são contraditórias em grande parte. Assim, não há expectativas certas ou erradas, mas apenas esperanças.


terça-feira, 17 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? O QUE É VERDADE?

As últimas postagens suscitaram discussões muito interessantes, e acredito que foram muito proveitosas para que lutemos por nossa liberdade cristã. Temos visto que não existem “sim” ou “não” fixos, mas que cada situação de nossas vidas exige reflexão, inteligência, sensibilidade. O homem ou a mulher livre é capaz de meditar nos problemas da vida, colocar o próximo em primeiro lugar, e decidir por si mesmo, sofrendo o mínimo de influências alheias e minimizando as consequências negativas de seus atos. Isso é ser livre, pelo menos em minha opinião.


Não lemos na Bíblia que a verdade nos libertaria? Então, o que é a “verdade”? Veja que a “verdade” não é tão simples como dizem por aí; você pode se tornar evangélico, ver-se livre de alguns pecados, mas acabar preso por normas humanas que não lhe deixam decidir a vida por si mesmo. Essa suposta “verdade” que as igrejas pregam liberta-nos de algumas jaulas, mas também nos mantém com várias algemas. A Bíblia como as igrejas lêem não liberta, os programas de rádio e TV evangélicos então, são verdadeiros calabouços.


Provavelmente eu não saberei definir a “verdade” como convém para encerrar esta reflexão, mas eu já sei ao menos definir o que não ela não é, e ela não é esse amontoado de regras, hierarquias, mandamentos, exigências, agendas, obrigações... Nada disso está servindo à vida, nada disso se parece com a liberdade proposta por Jesus.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? PODE O CRISTÃO VIVER SEM IGREJA?

Pode o cristão abandonar a igreja e viver seu cristianismo em casa?


Na Bíblia, a maioria das pessoas vivia sua fé no cotidiano do lar, na aldeia, no clã; igreja é coisa recente, e nunca foi elemento essencial para que alguém buscasse ou se relacionasse com Deus. Qual era a igreja de Jesus? Nenhuma, não haviam igrejas, e ele chama o Templo de Jerusalém de covil de ladrões, e é rejeitado pelas sinagogas da Galiléia. Jesus então passou a trabalhar sua vida religiosa e sua missão de maneira independente. É só um exemplo, mas pergunte-se também pela igreja de Davi, de Abraão, de Elias...


Não deixei de congregar, antes que me acusem; mas honestamente, não vejo onde a decisão pessoal de deixar a igreja pode ser considerada um pecado. Tudo depende do próximo, como sempre. Talvez você não tenha preocupações com sua fé, sinta-se seguro para viver sua religião de maneira independente. Mas deve se perguntar se é capaz de alimentar a fé da sua família também, se está apto a instruí-los em boas veredas, a protegê-los das eventualidades como se eles fizessem parte de uma rede de amigos (quase sempre) fiéis como é a congregação, e se é capaz de dar-lhes os padrões éticos que eles receberiam caso freqüentassem uma igreja. Se a resposta for sim, pergunte-se também se sua participação numa igreja não seria proveitosa às pessoas mais fracas, que dependem da igreja. Vale a pena abandoná-la? Você é livre para decidir.


Por outro lado, avalie a influência da sua igreja sobre você e sua família, e pergunte-se se esta igreja não serve como mais uma ditadora que priva o cristão da sua liberdade. Quando falamos sobre cigarros e bebidas, dissemos que o vício tira nossa liberdade, e isso me faz dizer não a tais coisas. Há igrejas que também querem nos viciar, exigem nossa participação várias vezes por semana, nos cobra caso deixemos de ir lá um domingo, e privam-nos da intimidade familiar. Qualquer tipo de limitação desse tipo é negativa. Sou livre para frequentar qualquer igreja, mas também sou livre para dizer quando quero ir ou não, quando quero participar dos projetos ou não, quando quero trabalhar nos ministérios ou não, e até quando quero ajudar financeiramente ou não... Não aceito ordens, preferiria me afastar, procurar outro lugar.


Para finalizar, temos que perguntar por que alguém que já é cristão e freqüentava alguma igreja agora quer ser independente. A motivação para este abandono pode ser errada, e não necessariamente uma questão de liberdade. Geralmente os homens livres não vêem problemas em estar em igrejas, em alimentar as amizades; mas eles não se sentem obrigados a estar ali todos os cultos, todas as semanas, e não acham que isso os afasta de Deus. Quando notamos uma repulsa excessiva para com igrejas, é sinal de que algo já está nos privando da liberdade de participar.


Outra vez, a escolha é nossa, mas a resposta não pode ser sempre a mesma. Nossas decisões são pessoais, temos avaliar os riscos, as consequências, medir os benefícios... Mas vivemos em sociedade, nossas decisões pessoais quase sempre afetam outros, e aí encontro limites para minha liberdade, pois Jesus só me pediu isso, que ame a Deus e ao próximo, que faça aos outros o que eu gostaria que fizessem por mim. Levando isso em consideração, posso ser livre.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? PODE O CRISTÃO DIVORCIAR-SE?

Nem adianta procurar a resposta na Bíblia, pois dependendo do texto que ler, vai chegar a uma conclusão diferente (eu já escrevi um texto sobre o divórcio com base em Mateus 5, procurem nos textos antigos se quiserem). Lembre-se que o amor ao próximo é a única Lei que realmente importa; esse é o ponto que pretendo destacar com todas essas postagens. Se você não leu o primeiro texto sobre “O que é Liberdade?”, volte lá e leia antes de responder a pergunta.


Geralmente, na igreja a resposta para o divórcio é não, mas aqui neste blog para pessoas livres esta resposta também pode variar. E isso não depende somente do adultério. Sempre digo que há casos em que o casamento foi um pecado maior que o divórcio. Muitos casais não se conheciam, não avaliaram suas incompatibilidades, e depois de casados vivem numa sucessão de pecados diários. Aí não existe somente o adultério, há também diferentes tipos ofensas, ódio, agressões, más influências para as crianças... Manter uma família presa à infelicidade não é cumprir o mandamento do amor, e neste caso eu provavelmente diria sim ao divórcio. Mas o divórcio é pecado? Talvez sim, mas em casos extremos, é um pecado que põe fim aos pecados diários do casal e oferece a chance de ele serem felizes algum dia.


Claro que é sempre preferível tentar solucionar o problema instruindo o casal, pois na maioria dos casos o divórcio é o resultado de não se praticar o mandamento do amor ao próximo em casa, e se isso não mudar, não há união que suporte. Pessoas problemáticas estragam relacionamentos e descumprem toda a Lei e os Profetas, e o casamento é apenas mais uma vítima desta doença.


Outra vez, a resposta depende. Aqui, a aplicação da lei de maneira padronizada é que é pecado.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? O CRISTÃO PODE FAZER YOGA?

A próxima pergunta foi sugerida por Evandro Marques da Silva. Ele escreveu-me um e-mail, e ao lhe dar minha opinião pedi para postar também esta dúvida no blog.



A pergunta é: pode o cristão fazer Yoga-Cristão? Essa é uma pergunta difícil para mim, já que não sei nada sobre o assunto. Já li alguma coisa sobre a Yoga ser uma prática não somente física, mas também religiosa, o que é um problema para os cristãos. Mas não sei se hoje existem pessoas que praticam Yoga sem qualquer conotação religiosa, embora a tradição seja daí remanescente.



Talvez isso seja como a carne sacrificada aos ídolos, algo que estava certamente ligada ao culto de outros deuses. Porém, Paulo diz que por não acreditarmos nesses deuses, o cristão come sem pecar. Eu, particularmente, não me negaria a experimentar essa Yoga-Cristã para ver como é. Caso algo me incomodasse, abandonaria. Quer dizer, eu não fugiria só por ouvir falar, pois há pessoas que ainda não são livres para decidir por si mesmas que acabam tentando nos aprisionar também. A decisão, neste caso, depende de mais conhecimento.



Mas deixe-me dar um exemplo radical antes de terminar. Meus pais são espíritas kardecistas, e quando vou a Goiânia visitá-los, eles querem que eu participe de uma reunião no lar onde lêem um trecho do livro dos espíritos. Na verdade não acho que este livro tenha algo a me ensinar. Sou biblista e vejo que quando os supostos espíritos comentam os textos bíblicos cometem sérios erros. Também não tenho interesse em ter contato com espíritos, não acho que a proximidade deles, ou a proteção, sejam necessárias, pois só creio mesmo em Deus. Todavia, sempre participo da reunião, pensando primeiro na comunhão familiar, e também por não querer me apresentar a eles como um fundamentalista radical que chama os deuses dos outros de demônios e torna-os cada vez mais arredios para com o evangelho.



Por tudo isso Evandro, deixo contigo a decisão.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? SEXO ANTES DO CASAMENTO, PODE?

Pode um jovem casal de namorados cristãos fazer sexo antes do casamento? Essa é outra questão difícil que gostaríamos de abordar dentro desta discussão sobre a liberdade cristã. Novamente, pensemos nos outros antes de responder.



O sexo entre os jovens não casados, o ato em si, pode não ser o problema, ou a razão para responder sim ou não. Como sempre, cada pessoa envolvida deve ser levada em consideração. Quão comprometidos estão as duas partes desta relação? Quão maduros são eles para fazer sexo com segurança? Algum deles pensa no sexo apenas como mero passa-tempo, diversão? As duas partes querem fazer sexo ou uma delas está sendo pressionada a tomar esta decisão pela outra? Não tenho uma resposta pronta para oferecer, hoje eu diria sim ou não a partir de uma análise cuidadosa da situação.



Como eu disse quando falávamos sobre o apoio aos homossexuais algumas postagens atrás, o casamento não acontece quando assinamos alguns papéis, e na verdade, há jovens namorados mais “casados” (ou seja, mais comprometidos e devotados um ao outro) do que muitos casais que estão com os papéis em dia. Não dá pra dizer hoje pode, ontem não podia, com base apenas nos documentos. Que o critério para se tomar esta decisão esteja sempre baseado no amor ao próximo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? PODE O CRISTÃO FAZER TATTOO?

A pergunta de hoje é: pode o cristão fazer uma tattoo? Antes de responder, deixe-me lembrá-los que nosso objetivo não é solucionar as dúvidas dos cristãos, mas exercitar o pensamento livre, o direito de decidir, tendo como único parâmetro o mandamento do amor ao próximo, que foi explicado abaixo. Então, antes de dizer se o cristão pode fazer uma tattoo, pense no próximo.


Particularmente, não vejo problema numa tatuagem, que é uma espécie de ornamento permanente. Tanto, que eu mesmo tenho duas e pretendo fazer uma terceira. Não vejo como outra pessoa pode ser prejudicada pela minha decisão pela tatuagem, e se estou disposto a suportar a dor, não descumpro o mandamento bíblico por fazê-lo.


Porém, nalguns casos, fazer uma tatuagem pode implicar em contenda familiar, desobediência aos pais, desagrado aos familiares. Neste caso, não a tatuagem, mas o ato de criar desavença deveria ser evitado. Se a decisão de fazer uma tattoo em seu corpo parte do desejo de libertar-se do controle dos pais, há problemas. Não é assim que se ganha liberdade, mas seguindo pelo caminho comum, que é estudar, trabalhar, ganhar independência financeira, ter a própria casa e cuidar da própria vida sem precisar de auxílio alheio. Às vezes, queremos liberdade, mas nossa liberdade tira o direito de escolha de outrem.


Enfim, as respostas sempre podem encontrar um “porém”. Vejam como podemos de tudo, mas como nem sempre convém. Mesmo desconsiderando saúde, dor ou conselhos, a única coisa que nos impede de fazer algo é o amor.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? DEVEMOS APOIAR OS HOMOSSEXUAIS?

O momento pede pela próxima pergunta, que é sobre a questão do reconhecimento dos direitos dos casais homossexuais. Nos perguntamos se um cristão dentro do congresso nacional deveria votar a favor ou contra esta lei. A resposta, baseada no mandamento de Jesus para que amemos o próximo como a nós mesmos, é obvia: claro que ele deve votar “sim”. Mas para que eu não seja virtualmente crucificado, vamos um pouco mais fundo nesta questão.


Para começar, os cristãos precisam compreender que o casamento não se dá quando nós assinamos os papéis num cartório qualquer, mas quando duas pessoas assumem um compromisso pessoal entre si. Assim, o papel da lei é apenas garantir que ambas as partes envolvidas nesta aliança tenham seus direitos garantidos. Em caso de divórcio, como fica a divisão dos bens? Em caso de falecimento, como fica a herança? Aí é a lei que deve responder. Então, não é porque um evangélico deixa de fazer um casamento homossexual em sua igreja que os casamentos homossexuais deixam de existir. Esta resistência só impede mesmo que tais pessoas sejam amparadas pela lei do casamento.


Assim sendo, independente de sua opinião pessoal sobre os casamentos homossexuais (assunto que não vou abordar hoje porque é demasiadamente complexo), para fazer o que a Bíblia diz, amar ao próximo e ser livre, é necessário primeiro que não julguemos os homossexuais. Depois, é necessário estar ao lado deles na luta pelos seus direitos constitucionais, como por exemplo o de ter garantida sua herança, quando seu parceiro(a) porventura vem a falecer. Por que uma família que nunca apoiou um filho homossexual vai agora reivindicar para si os bens do falecido, e tirar a herança do cônjuge que realmente o amava. Isto é ser cristão? Isso não é, a princípio, apoiar o homossexualismo, é o reconhecimento de que tais pessoas são tão humanos quanto os heterossexuais, e dignos dos mesmos benefícios.


Vou deixar a pergunta mais direta sobre o homossexualismo para outra postagem. Por hora, esta discussão é suficiente.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? PODE O CRISTÃO BEBER?

A segunda pergunta desta série é parecida com a primeira: Pode o cristão beber algum tipo de bebida alcoólica? A resposta inicial é sim, pois se isso faz mal à saúde e você decide usar, o problema é seu. Mas a resposta muda quando avaliamos a questão por outro ângulo, pelo lado do próximo. Devemos decidir rejeitar a bebida se acabaríamos dirigindo um automóvel sob o efeito do álcool. Devemos dizer não para que a dose não se nos torne inconvenientes, agressivos, ou coisa assim. Devemos dizer em ambientes ou perante pessoas que se escandalizam com isso. O problema da influência mimética sobre crianças e adultos, e o problema da dependência que ela pode causar continuam valendo aqui como no caso do cigarro. Outra vez, nós temos liberdade para decidir, mas quando colocamos o próximo em primeiro lugar, acabamos descobrindo que há mais motivos para dizer não do que sim.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O QUE É LIBERDADE? REFLEXÕES SOBRE A VIDA CRISTÃ E SUAS MUITAS REGRAS



Pelo título do texto vocês já devem saber qual texto tenho em mente. Pois é, ele mesmo, João 8.31-32: “Se vós permanecerdes na minha palavra sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Mas hoje não estou para exegese, quero fazer algumas reflexões pessoais sobre esse tema da liberdade, e depois, sobre a verdade que a ela costuma sempre estar ligada nos discursos cristãos. Seguindo o texto, geralmente falamos primeiro da verdade, para depois dizer que ela deve nos libertar, mas vou fazer o caminho contrário, por achar a “verdade” algo muito subjetivo, que só posso definir partindo do meu conceito de “liberdade”.



Para ir direto ao ponto, sempre defini liberdade como o poder e o direito de decidir. Ser livre não quer dizer que posso fazer de tudo, quer dizer que tenho a condição de dizer sim a algumas coisas, e não a outras, desde que a resposta tenha sido espontânea, própria, o mais livre possível de influências ou pressões. Um dependente químico sempre diz sim, mas não é livre para dizer não. Isso não é liberdade! Um cristão é livre quando pode dizer sim ou não a tudo. Nada lhe está vedado, ele pode julgar por si mesmo e decidir o que fazer.



Talvez eu esteja exagerando. Claro que há um parâmetro para guiar as nossas decisões cristãs. Não decidimos com base nas vontades instintivas, nem com base em hierarquias, nem com base em tradições, nem com base em mandamentos. O critério para cada decisão é a própria vida. Segundo Mateus 22.37-40, toda a Lei e os Profetas são cumpridos quando nós amamos a Deus e ao próximo. Deus e o próximo não são duas coisas diferentes aqui, quando falamos de ação, são quase sinônimos. Lembra-se que quando vestimos aquele que está nu, estamos vestindo Jesus? Lembra-se que quando negamos comida ao faminto, estamos negando comida a Jesus? (Mateus 25.31-46) Então, neste caso, façamos o bem ao nosso semelhante e os dois mandamentos estão cumpridos. Quer dizer, não há caridade para com Deus, boas obras, ou qualquer coisa que faça Deus mais rico ou mais pobre. Quando o amor a Deus extrapola os sentimentos e se manifesta fisicamente, como uma ação, ele é uma atitude benéfica para com outros seres humanos.



Esse é o parâmetro para o homem livre, tratar nossos semelhantes como gostaríamos que todos nos tratassem (Mateus 7.12), fora isso não há limites. Então, eu posso comer a carne de um boi que foi sacrificado aos demônios num ritual qualquer (1Coríntios 8.1)? A decisão é nossa, eu posso dizer sim ou não e isso não significa muito para Deus. Mas temos que pensar no irmão que por ignorância fica com a consciência “contaminada” (v. 7). Se isso faz mal ao irmão, então dizemos não à carne sacrificada, e assim cumprimos a Lei do amor. Mas se estou só eu, e não ligo pra isso, digo sim, como meu churrasco e tenho paz com Deus. Não sou hipócrita por agir de maneira diferente em cada situação, sou livre.



Em Mateus capítulo 12 temos algumas narrativas sobre Jesus agindo num sábado. Ele primeiro quebra a Lei do sábado ao deixar que os discípulos colhessem espigas quando tinham fome (v.1-8), depois ele volta a quebrar o sábado porque cura um homem dentro da sinagoga (v. 9-13), e por fim ele exorciza outro homem (v. 22-23), terminando de quebrar a tradição e suscitando o ódio dos religiosos. Esse é um bom exemplo de que não há Lei a não ser a Lei do amor ao próximo. Qualquer mandamento, tradição, hábito, regra ou dogma que porventura viole a Lei do amor, pode ser quebrada sem peso na consciência. Eu já disse isso antes, mas vou repetir: O homem não foi criado para a Bíblia ou para a religião, elas é que foram criadas para o homem.



A partir de agora vou colocar mais pimenta na discussão, trazendo algumas perguntas atuais que os cristãos encontram dificuldades para responder. Claro que vou abordar temas com os quais me identifico, casos em que já meditei antes. Estou pronto a ouvir as opiniões alheias, e aberto a novas sugestões de perguntas que podemos tentar responder. Vou fazer isso pausadamente, talvez postando um exemplo por dia. Visite o blog e opine.



Aí vai a primeira pergunta:



Pergunta 1: Pode o cristão fumar cigarro? À primeira vista, com base na Lei do amor ao próximo que nos faz livres para decidir, ele pode, desde que não faça com que outros fumem passivamente. O uso do cigarro faz mal só ao próprio fumante neste caso, e fumar torna-se falta de inteligência, não necessariamente um pecado. Mas pensando que podemos influenciar negativamente outras pessoas (principalmente os nossos filhos) com tal hábito prejudicial, e que isso causa dependência e tira nossa liberdade de escolha no final, eu diria que não convém fumar.





Ofereça-nos sua opinião, sugira novas perguntas, e acompanhe o blog para ver como lido com estes temas no dia a dia, sempre guiando-me pela Lei do amor, que nos dá a verdadeira liberdade.




segunda-feira, 2 de maio de 2011

NOVO ARTIGO PUBLICADO - PRESSUPOSTOS PARA SE LER O EVANGELHO DE MATEUS

Com satisfação venho divulgar a publicação de um novo artigo meu, desta vez, pela Revista Plura, a revista de estudos de religião da Associação Brasileira de História das Religiões.

Meu artigo na verdade resume algumas das conclusões expostas em minha dissertação, e procura oferecer pressupostos para uma teoria literária que apóie os estudos do Evangelho de Mateus. Ou seja, discuto temas tradicionais como autoria, datação, localização geográfica, e oferece algo sobre o conflito entre judeu-cristãos e fariseus.

O artigo está disponível on-line em: http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/plura/issue/view/5

Anderson.