quarta-feira, 14 de março de 2012

LENDO FILIPENSES 1.1-2


Na introdução à carta, devemos nos perguntar primeiro sobre a indicação que o próprio texto nos dá sobre seus autores. São dois, Paulo e Timóteo. A leitura cristã, como sabemos, sempre considera a carta como se fosse apenas paulina, desconsiderando essa informação. Mas isto não é sem motivos, na sequência de nossa leitura, notaremos que o texto é construído a partir de um só narrador, Paulo. Então, por qual motivo Timóteo é citado? Uma resposta, embora não definitiva, é que Timóteo estava presente durante a composição da carta, talvez opinando, talvez até mesmo escrevendo. É bem possível que não apenas Filipenses, mas todas as cartas paulinas, tenham esta autoria coletiva, em que as palavras de um só narrador na verdade escondem ideias de vários pensadores; e é bem provável que aquele que tivesse melhor caligrafia ou melhor formação, assumisse a pena. O nome do apóstolo, o mais célebre entre os possíveis autores, é enfatizado por dar maior autoridade à carta ou legitimidade ao seu conteúdo. Sabemos pelos pseudepígrafos que critérios assim determinavam a escolha dos “autores”.

Se nos perguntamos pelos autores, também devemos tratar dos destinatários. Neste caso, todos os “santos em Cristo Jesus que estão em Filipos”, e com eles os bispos e diáconos, são apontados como os leitores da carta. Temos então um texto que se dirige a todos, inclusive aos líderes que já iam surgindo nas comunidades proto-cristãs. Isso será relevante para que entendamos os elogios, críticas ou exortações da carta como temas de amplo interesse, que não tinham objetivos pessoais. A generalização do conteúdo é uma característica que esta introdução já nos oferece.

Por fim, no versículo 2 a típica saudação paulina aparece. Aqui temos um daqueles casos em que o texto já não quer dizer exatamente o que suas palavras dizem; isto é, como em toda saudação, falamos movidos por hábitos, e nem sempre meditamos sobre o significado das palavras envolvidas na comunicação. Por exemplo, quando encontramos alguém é dizemos “tudo bem?”, não estamos realmente esperando que a pessoa comece a nos contar todos os problemas que tem atravessado na vida; na verdade, na maioria das vezes não se trata de uma oferta de ajuda real, mas apenas de hábitos de linguagem. Paulo parece ter adquirido (ou criado) um hábito de linguagem, onde sempre deseja ou evoca a graça e paz de Deus e Cristo sobre os destinatários da carta, independente do conteúdo que se seguirá. Por isso, não nos ocuparemos destas palavras com mais detalhes por enquanto.

Nenhum comentário: