Aprendi com os anos a apreciar o conhecimento, e com ele o estudo e a leitura. As coisas não foram sempre assim comigo, não fui bom aluno até os últimos anos do ensino médio, mas desde a faculdade (que terminei em 1999), tornei-me um excelente aluno. Segui sempre estudando desde então, fiz um daqueles antigos cursos técnicos de processamento de dados, fiz música, mais música, teologia, até estudei para ser corretor de seguros, pós-graduação, mestrado e estou no doutorado. Nestes anos, ganhei experiência no estudo e aprendi a aproveitar melhor meu próprio tempo de estudo, assim como meu dinheiro. Este texto tem por objetivo transmitir parte dessa experiência, especialmente no que diz respeito aos livros. É bom dizer que tenho em mente os estudantes de teologia com os quais convivo atualmente, embora as dicas possam ser aproveitadas por todos os leitores que gostam de estudar e ler como eu.
A primeira dica pode parecer surpreendente, mas é a seguinte: você não precisa de milhares de livros em sua casa, pense em ter uma biblioteca limitada, mas que dê prioridade à qualidade dos volumes. Aprendi a não comprar todos os livros, pois a grande maioria dos livros que adquirimos só ocupam espaço. Os livros certos para comprar são aqueles que usaremos pela vida toda, ou por muitos anos. São os dicionários, as gramáticas, os manuais de metodologia, os livros que tratam de temas abrangentes, e que vez ou outra estamos consultando. Aqueles livros que lemos de uma vez e não voltam a ser consultados, não são boas compras. Não quero dizer que não devemos ler estes livros, só que deveríamos evitar comprá-los.
Quem gosta de ler deve ter amigos que gostam de ler, e trocar livros para economizar. Quem gosta de ler deve ter acesso a alguma biblioteca, de onde possa tomar livros desse tipo emprestados sem ter que gastar dinheiro com eles. Caso você já tenha muitos desses livros que só servem uma vez, faça como eu, venda-os ao sebo. Eu não tenho qualquer relação sentimental com os livros, e por isso não tenho problema em vendê-los, ou doá-los. O que me incomoda é ver aquele livro que com certeza eu nunca mais vou ler na minha prateleira. Com o tempo nós evoluímos, e os livros não, e por isso é muito comum deixarmos de apreciar livros que no passado foram importantes. Pare de ser materialista e dê um fim nisso. Ah! Se o livro não presta, deve ir para o lixo; não presenteie ninguém com lixo.
Outra dica importante é aprender a usar a internet. Eu tenho uma biblioteca com centenas de títulos no computador, com mais títulos do que tenho em minha biblioteca física. Livros que eu não poderia ter em mãos, a maioria importados, caros, mas que pela internet eu pude adquirir. Sei que há quem não goste de ler no computador, mas a tecnologia está evoluindo para acabar com essa dificuldade, e provavelmente num futuro breve só pessoas que realmente não se adaptam a novas tecnologias farão questão de ler no papel. Atualmente também prefiro ler no papel, mas isso não me impede de usar muito o computador. Há muitos livros que só queremos por um capítulo ou outro, e o computador é o melhor meio de acessá-los.
Então eu diria que não devemos comprar todos os livros que queremos ler. Por outro lado, também não precisamos ler todos os livros que compramos ou que temos em mãos. Desisti faz tempo dessa mania perfeccionista de sempre querer terminar os livros que começo a ler. Isso é um grande desperdício de tempo! Há livros que são horríveis, e não merecem tanto tempo assim. Aprenda a parar a leitura, e a selecionar bem o que realmente deve ser lido, e a pular de capítulo quando notar que esse não é o que procurava. Se você é dessas pessoas que amam mais o livro do que o conhecimento, comece a se libertar fazendo algumas doações e vendas, aprenda a riscar os livros pra valer, o que facilita na hora de novas consultas.
Outra dica, mais específica aos estudiosos da religião. As editoras católicas são muito melhores que as evangélicas, e até os bons autores evangélicos só são publicados pelos católicos. Assim, se você é evangélico, precisa aprender a entrar nas livrarias católicas da Praça da Sé e nunca mais pisar na rua Conde de Sarzedas. Quer saber o que é bom nas edições evangélicas? Só as capas, o conteúdo costuma ser horrível, limitado a repetir os dogmas da denominação que está por trás da editora. Para não generalizar, procure saber mais sobre os autores dos livros. Cuidado com pastores sem formação que um dia resolvem escrever para aproveitar um pouquinho mais do seu público; cuidado com os “grandes” relançamentos de clássicos do século XVI que já deveriam ter sido enterrados, mas que sobrevivem porque seus editores ainda estão no século XVI; cuidado com quando ver evangélicos discutindo ciência e evolucionismo; e cuidado com o fundamentalismo e com as promessas de prosperidade dos norte-americanos.
Outra maneira de economizar dinheiro com seus livros é ter paciência e pesquisar. É assim, descobriu que há um título importante que precisa ler, ou há um assunto que precisa pesquisar, então não vá comprando qualquer coisa que encontrar. Primeiro entre na internet e veja se não encontra esse autor ou outros livros sobre o mesmo tema para baixar. Mesmo se você não gosta de ler no computador, pode ler algumas poucas páginas para avaliar o livro antes de comprar. Para comprar, pesquise sobre o seu autor ou seu tema no site das grandes livrarias, aí você saberá quando custa o livro, e provavelmente descobrirá que há vários outros títulos que talvez sejam melhores que o que tinha mente. Segundo, faça uma lista dos livros que lhe interessam, e procure comprá-los de algum distribuidor conhecido, ou espere por eventos como feira de livros, que sempre oferecem descontos atrativos. Mesmo assim, sempre esteja ciente de que o livro (falo do material e não do conhecimento nele contido) não vale o que você pagou, a não ser que tenha pago algo em torno de 5 reais por cada 100 páginas, o que é muito raro.
Se quer saber um modo mais inteligente para fazer boas comprar, consulte pessoas mais experientes. Se você quer um livro de história da igreja, por exemplo, procure um professor da área e anote suas sugestões. Os riscos de errar na compra serão bem menores. Se o livro que ele lhe indicar for ruim, mude de professor; é o jeito.
Eu só tenho uma dica que talvez te faça gastar mais dinheiro em vez de economizar, mas as ocasiões são raras. Como trabalho com exegese, ou seja, com interpretação bíblica, eu leio muito a respeito, e tenho vários livros do mesmo assunto. Se você se identifica com algum tema, ou se quer mesmo se especializar nalgum assunto, tal dedicação é necessária. Neste caso, eu prefiro ler três livros diferentes sobre o mesmo assunto do que ler o mesmo livro três vezes. Com o tempo você aprende a avaliar pelos sumários os livros de sua área, e já não comprará qualquer coisa.
Falando agora de Bíblias, pare de ser um colecionador, ninguém precisa de 15 Bíblias. Para os estudiosos, três ou quatro são suficientes, para os demais, bastam uma ou duas. A Bíblia é um livro barato, de domínio público, cujos autores não recebem direitos autorais, e por isso nenhuma Bíblia deveria custar mais do que 30 reais. Dê preferência às mais baratas, e tenha duas ou três versões bem diferentes umas das outras. As Bíblias de estudo são lançadas para que se possa cobrar 70, 100 ou mais por elas. Fuja imediatamente de todas essas publicações! Na maioria das vezes aquelas notas de rodapé só atrapalham sua própria interpretação, tentam doutrinar o leitor. Então, não é com Bíblias que vamos gastar nosso dinheiro. E mais uma coisa: uma Bíblia é um punhado de papel como qualquer outro livro, e se você acha que algo ali é sagrado, é só o conteúdo, não o papel. Com o desgaste, acredite, até as Bíblias precisam ser descartadas. Não é pecado jogar uma Bíblia fora; pecado é usar a mesma Bíblia por vinte anos, e quanto ela estiver caindo aos pedaços, fazer caridade, levar à igreja para “ajudar” os irmãos. Também não seja idólatra a ponto de fazer um sepultamento para o livro, pode jogar fora sua Bíblia velha e comprar outra.
Mais algumas dicas: Jesus não foi médico, nem advogado, nem administrador de empresas, nem psicólogo ou qualquer coisa parecida. Ele foi um carpinteiro (o termo pode servir para diferentes atividades braçais, como pedreiro ou ferreiro), e foi um curandeiro mesmo, mas ninguém quer dizer isso hoje em dia. Ele também não foi evangélico, nem protestante, nem católico, ele foi judeu, como judeus eram todos aqueles que nasciam sob aquela etnia e cultura. Por favor, queime todos os livros que façam essas afirmações ridículas. Se não é para o seu bem, pense naqueles que porventura podem abrir um livro desses algum dia, ou imagine que um dia algum arqueólogo desinformado pode encontrar essas porcarias que você preservou soterradas por aí e achar que toda a nossa geração era assim ignorante. Brinquei com alunos esses dias dizendo que deveriam queimar alguns livros nas fogueiras de São João, mas lembrei que eles são evangélicos, e então sugeri a “fogueira santa de Israel”, o que já seria uma opção mais ortodoxa.
4 comentários:
Olá professor Anderson!Tudo bem!
Gostei das dicas, acho que para todos nós que estudamos teologia será muito útil, para evitarmos compras desnecessárias e acúmulo de livros que leremos só uma vez.
Abraços.
Marcos Bezerra.
ah meu amigo... você me deixou pensativo agora... e agora?
Que bom que minhas dicas te agradaram Marcos. Obrigado por dedicar seu tempo às minhas ideias.
Ah, Júnior! Está com problemas? Sei que gostas de ler, e que deves gastar algum dinheiro com livros frequentemente. Talvez sejas também do tipo que faz questão de ler os livros até o final. Se ficou pensativo, é sinal de algo está sendo revisto, e no final das suas reflexões algo vai ser melhor na sua forma de estudar.
Mas Júnior, não vá queimar os livros ainda. Não precisa me levar tão a sério assim. Abraço.
já tenho pensado nessas coisas Anderson,depois que tive aula com você venho mudando,valeu pelas dicas, vou ler o artigos outras vezes,uma coisa é certa só tenho entrado em livrarias católicas descobri que as livrarias evangélicas não tem nada que se aproveite.
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