segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

INTERPRETAÇÃO BÍBLICA PASSO A PASSO – HERMENÊUTICA OU ATUALIZAÇÃO

O roteiro exegético que eu queria propor aos meus alunos e leitores em geral está completo com a aplicação dos passos anteriores. A análise já nos deu materiais suficientes para que digamos o que quer dizer o texto, para supor de maneira mais crítica a leitura que seus primeiros leitores fizeram dele. Porém, parar aqui só satisfaz os acadêmicos. Falar sobre o texto como documento histórico, como obra literária, é o que faço nos meus artigos publicados; porém, isso não basta para a vida fora da academia, para a igreja, para a fé das pessoas que esperam de nós, exegetas, alguma resposta tirada da Bíblia.

Por isso incluo ao final da exegese este passo, a hermenêutica ou a atualização do sentido do texto. A partir do resultado obtido na exegese, nos perguntamos pelo valor que aquela mensagem possui para os nossos dias atuais. Aqui importam os valores, os princípios morais, éticos, os conselhos para se viver melhor e de acordo com o que acreditamos ser a vontade de Deus. É hora de pregar, de fazer com que o texto fale a todas as pessoas de maneira simples e prática, propondo um modo de vida, uma mudança de conduta, um novo tipo de comportamento...

É difícil estabelecer critérios para escolher o que merece ser lido como norma para os dias de hoje ou não. Muitas exegeses nos mostrarão que a mensagem central do texto não diz muito para a nossa geração, e ao tentarmos tirar do texto um sermão útil, acabamos por falar o que o texto não diz. Isso é um crime imperdoável; nós gastamos muito tempo estudando o texto para que agora o deixemos de lado para ensinar aos outros nossos próprios conceitos. Nestes casos, seja honesto, admita que o texto é antiquado e parta para outro. Jamais caia novamente no erro de usar o texto como pretexto para seus sermões.

Noutros casos o problema é que a mensagem do texto é ruim. Isso acontece mesmo quando estudamos a “palavra de Deus”. São textos que incentivam a violência, a discriminação, o sacrifício de animais... Coisas assim não nos servem, e temos que escolher entre desobedecer o texto ou falar asneiras que podem até resultar em processos contra nós. Eu escrevi algumas linhas sobre isso no meu blog, num texto chamado “O que eu faço com esse texto? Como pregar a partir de textos bíblicos que incentivam a violência”. Não vou repetir o que já disse, por isso indico o texto e encerro a questão dizendo que haverão ocasiões em que é melhor não usar o texto.

Agora o conselho mais útil. No geral, para tirar da Bíblia o que ela tem de melhor para os cristãos de hoje, eu parto sempre da mitologia como o ponto mais importante. Quero dizer, que é na mensagem de fé, de esperança, de uma restauração do mundo etc, que se concentra a mensagem atemporal da Bíblia. Os fatos históricos geralmente não são mais que curiosidades, mas quando o texto diz que Deus livra os seus das mãos dos inimigos, isso é importante e eterno. Não importa se o evento narrado ocorreu ou não, importa a fé do autor e nossa de que Deus salva aqueles que ama. Assim, repito: está na mitologia, na mensagem que exige fé, que não se poderá provar, aquilo que a Bíblia tem de melhor.

Esse passo exige prática e bom senso, sensibilidade às necessidades humanas e às atualidades mundiais... Porém, o mais importante é não se esquecer de partir da exegese. Sem exegese, tiramos do texto o que ele não disse, e voltamos a pregar qualquer coisa, como toda igreja por aí faz quando só vê na Bíblia aquilo que confirma seus pressupostos.

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