Tratamos anteriormente da “crítica textual”, apresentando esta abordagem ao mesmo tempo em que dizíamos ao leitor que não utilizaríamos como passo obrigatório neste nosso esboço de curso de exegese. Agora, vale a pena dizer que há ainda outros passos que também não abordamos ao longo do estudo, e cada um deles por razões próprias.
Há, por exemplo, um passo exegético bem atual que chamamos de “análise da recepção”, onde se estuda a maneira como determinado texto foi lido e interpretado ao longo da história. Averigua-se, por exemplo, como os pais da igreja, os teólogos da idade média, da reforma, e dos tempos modernos, entenderam o texto que estamos estudando. Este é um passo que exige grande pesquisa, mas que nem sempre é aplicável; isso depende dos nossos objetivos com a exegese. Mas ele possui uma grande importância, a de nos fazer conscientes de que o texto bíblico nunca limitou-se a uma só leitura, o que deve ser suficiente para não apostarmos que nossa exegese apresentar-se-á como a leitura definitiva.
Outros passos muito comuns nos manuais de exegese foram descartados em nosso breve curso porque já não atendem às exigências do nosso momento. Por exemplo, temos a “análise da historicidade do texto”, que foi utilizada principalmente para distinguir textos que relatam eventos reais daqueles que tratam de eventos fictícios, como se os relatos reais fossem melhores, mais confiáveis, ou mais “divinos” que os outros. Hoje tal conceito está superado, e ler o texto sem esperar dele completas verdades inerrantes é o melhor caminho. Isto é, o texto tem valor independente de nos contar algo real ou de nos apresentar um mito.
Há também a chamada “crítica das fontes”, que procura distinguir no texto bíblico momentos redacionais distintos. Procura-se identificar a versão mais antiga de um texto, e explicar as correções ou alterações que o texto sofreu ao longo do texto. Assim, o próprio texto bíblico apresenta-se como obra coletiva que foi lida e relida por séculos até que chegasse à versão que temos em mãos. Esse passo ainda possui seu valor, mas também não devemos confundir o antigo ou original com o que é melhor. Se um versículo é originalmente de Isaías, não significa que merece mais atenção do que outro do “segundo Isaías” que ampliou o livro do profeta muitos anos depois.
Enfim, a exegese é uma ciência ampla. O uso dos passos exegéticos e a escolha deles para solucionar os mais diversos problemas que a Bíblia nos apresenta é algo que depende primeiramente do domínio metodológico do exegeta, depois de sua dedicação e experiência. Quanto mais exegeses fazemos, melhores ficam nossas interpretações da Bíblia.