segunda-feira, 18 de outubro de 2010

AS LIÇÕES DE ANANIAS E SAFIRA (Parte III)

Depois do fim de semana, voltemos ao estudo sério da Bíblia... Como eu tinha prometido, hoje vou falar do pecado de Ananias e Safira, do crime que lhes conduziu à morte. Essa discussão é mais sócio-histórica, e exigirá mais tempo que as anteriores.

As sociedades dos dias do nascimento do cristianismo eram coletivistas, os membros de um mesmo grupo social partilhavam não apenas todas as suas posses, mas também seu destino, sua religião, seus ideais etc. Em alguns casos, as pessoas substituíam seus clãs familiares originais por outros fictícios, unidos, por exemplo, por vínculos religiosos, filosóficos ou ideais de vida comum. Isso é, por exemplo, o que acontecia no Movimento de Jesus, em que os membros eram convidados a abandonar suas casas, compartilhar seus bens com os pobres do grupo, e aceitar o desafio do itinerantismo.

Na realidade, não sabemos nem mesmo se aquele desprendimento sócio-econômico originário de camponeses sem terra preservou-se quando os apóstolos estabeleceram a comunidade judaico-cristã de Jerusalém, e nem sua aplicabilidade na região gentílica em que Atos foi escrito, mas sabemos pelo texto que Lucas, representante de uma geração mais tardia de cristão, utilizava-se de uma versão idealizada daquela política igualitária para atingir os seus próprios objetivos.

No v. 4 de nosso texto vemos que embora esse fosse o ideal, as pessoas não eram obrigadas a entrar no movimento doando suas posses; mas Ananias pretende ser visto como alguém que doou suas posses. Por quê? Desta maneira, Ananias tornava-se mais um daqueles cristãos completamente dependentes, tendo direito a tudo aquilo que pertencesse ao movimento. Ananias viveria como um daqueles missionários, comendo, morando e vestindo daquilo que os irmãos lhe concedessem; mas sabemos que ele não era tão carente quanto pretendia dizer que era. Ele não só estava mentindo para Deus como diz o texto, ele estava tentando aproveitar-se financeiramente do grupo, atitude não somente condenável, mas até mesmo demonizada ali.

Ananias queria manter uma garantia, por isso guardou parte do valor de sua propriedade; mas ele também queria ser bem recebido no grupo e depois patrocinado como alguém sem qualquer garantia. É como se ele tivesse investindo 50% e quisesse ter direito a 100%. Nas palavras de John Dominic Crossan: “Tiravam da comunidade, como se já não tivessem recursos próprios [...] alegar uma dádiva absoluta era também alegar um direito absoluto...”.

Este é o pecado de Ananias e Safira, não a mentira, mas a intenção de aproveitar-se financeiramente do grupo que lutava pela igualdade. Isso vai nos dar belos ensinamentos quando ao final do estudo falarmos da aplicação prática deste texto, mas antes, ainda usarei outra postagem para questões técnicas.

2 comentários:

Voz de denúncia disse...

E muito bom olhar este texto por esse prisma, estou ansioso pela parte pratica, o que tem de pessoas escoradas tirando proveito de suas comunidades só Deus mesmo sabe, enfim esperamos neste mesmo local, horario e canal rsrsr

Comentários e Pensamentos disse...

Muito bom!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Quem poderia ajudar nessa desigualdade, se torna Safira e Ananias EX: Nossos políticos e muitos Lideres religiosos.
Engraçado que usam o texto para falar que não pode mentir para Deus.......
Fico na espera da próxima postagem!!!!!!!!!