Introdução
Tenho dedicado cada vez mais tempo à leitura de historiadores. O interesse pela historiografia me parece natural, já que como exegeta, tenho que lidar de forma criteriosa, como os historiadores, com documentos antigos que precisam ser interpretados, decifrados, traduzidos, para que se enfim desempenhem seu papel em nossos próprios trabalhos contemporâneos. Mas meu interesse nessas leituras não é pela história, pelo passado humano si; tenho prazer em ler historiadores porque me identifico sobremaneira com a forma com que os historiadores refletem sobre a natureza de sua profissão.
Ao longo do último século os historiadores tiveram que superar crises em sua disciplina. As ciências sociais, de forma bem geral, pareciam em certo momento que suplantariam a historiografia, e a famosa Escola dos Annales (1929) foi motivada em grande parte pela necessidade de redefinir a prática do historiador diante do status científico que estas outras disciplinas adquiriam. Seguindo pelo século XX, a linguística e a semiótica atacaram a própria essência da história levando-os a uma crise de paradigmas; desde então se diz que o historiador tanto pesquisa quanto cria enquanto reconstrói e conta o passado, e daí toda história contada passa a ser uma leitura pessoal, ainda que tenha sido produzida seguindo critérios metodológicos rigorosos. Estas crises não destruíram a historiografia, mas obrigaram os historiadores a refletir sobre sua atividade, delimitar seus objetos, definir seus papéis para a sociedade humana.
Enfim, tenho visto muitos historiadores se arriscarem nesses debates, e parece que algum consenso está sendo alcançado, o de que a história, ainda que só possa nos oferecer reconstruções limitadas do passado, é importante para a “constituição da memória social e configuração de nossa própria identidade”. A verdade é que o tempo passa, e o que fica para a posteridade não são os fatos, mas as narrativas que os historiadores produzem sobre aqueles fatos. Nossa história depende da competência e do empenho desses pesquisadores, e o que somos depende em boa medida do entendimento que temos dessas narrativas. Podemos explicar quem somos como indivíduos, como grupos sociais ou mesmo nações, a partir das narrativas históricas, fazendo o mesmo que os antigos faziam a partir das suas mitologias.
Então me pergunto: em que pé anda a reflexão sobre a natureza do trabalho exegético entre os exegetas? Este é um tema para pesquisa, que demandaria tempo e trabalho árduo. Porém, não é este meu objetivo aqui. Embora eu já tenha escrito centenas de páginas sobre a exegese, imaginei que seria conveniente voltar a estas questões que dão sentido à nossa atividade profissional.
Tenho dedicado cada vez mais tempo à leitura de historiadores. O interesse pela historiografia me parece natural, já que como exegeta, tenho que lidar de forma criteriosa, como os historiadores, com documentos antigos que precisam ser interpretados, decifrados, traduzidos, para que se enfim desempenhem seu papel em nossos próprios trabalhos contemporâneos. Mas meu interesse nessas leituras não é pela história, pelo passado humano si; tenho prazer em ler historiadores porque me identifico sobremaneira com a forma com que os historiadores refletem sobre a natureza de sua profissão.
Ao longo do último século os historiadores tiveram que superar crises em sua disciplina. As ciências sociais, de forma bem geral, pareciam em certo momento que suplantariam a historiografia, e a famosa Escola dos Annales (1929) foi motivada em grande parte pela necessidade de redefinir a prática do historiador diante do status científico que estas outras disciplinas adquiriam. Seguindo pelo século XX, a linguística e a semiótica atacaram a própria essência da história levando-os a uma crise de paradigmas; desde então se diz que o historiador tanto pesquisa quanto cria enquanto reconstrói e conta o passado, e daí toda história contada passa a ser uma leitura pessoal, ainda que tenha sido produzida seguindo critérios metodológicos rigorosos. Estas crises não destruíram a historiografia, mas obrigaram os historiadores a refletir sobre sua atividade, delimitar seus objetos, definir seus papéis para a sociedade humana.
Enfim, tenho visto muitos historiadores se arriscarem nesses debates, e parece que algum consenso está sendo alcançado, o de que a história, ainda que só possa nos oferecer reconstruções limitadas do passado, é importante para a “constituição da memória social e configuração de nossa própria identidade”. A verdade é que o tempo passa, e o que fica para a posteridade não são os fatos, mas as narrativas que os historiadores produzem sobre aqueles fatos. Nossa história depende da competência e do empenho desses pesquisadores, e o que somos depende em boa medida do entendimento que temos dessas narrativas. Podemos explicar quem somos como indivíduos, como grupos sociais ou mesmo nações, a partir das narrativas históricas, fazendo o mesmo que os antigos faziam a partir das suas mitologias.
Então me pergunto: em que pé anda a reflexão sobre a natureza do trabalho exegético entre os exegetas? Este é um tema para pesquisa, que demandaria tempo e trabalho árduo. Porém, não é este meu objetivo aqui. Embora eu já tenha escrito centenas de páginas sobre a exegese, imaginei que seria conveniente voltar a estas questões que dão sentido à nossa atividade profissional.
Um comentário:
Gostei desse compartilhar. Aguardo as proximas postagens para continuar aprendendo e entendendo com maior clareza.
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