terça-feira, 28 de dezembro de 2010

INTERPRETAÇÃO BÍBLICA PASSO A PASSO – ANÁLISE SÓCIO-HISTÓRICA

Chega de férias. Desculpem a demora nas postagens. Seguindo em nosso breve curso de interpretação bíblica, vamos falar sobre a análise sócio-histórica, que para muitos trata-se de uma análise contextual. Isso não está errado, falar da história do mundo relacionada ao nosso texto é tratar de seu contexto, mas de um contexto fora do texto, do livro. Por isso antes eu havia tratado do “contexto literário”, ou seja, o contexto dentro do próprio livro. Agora nossa tarefa é considerar a teoria literária antes adotada, e a partir dela, investigar dados que possam iluminar a compreensão do texto em si.

Há um erro comum neste passo. O estudioso começa a ler nos livros sobre aqueles dias, sobre aquele país, sobre aquele povo, sua religião e cultura... e acaba achando muitas coisas interessantes. O resultado é um longo texto falando de coisas que não dizem respeito ao texto em si. Por exemplo, não é sempre que falamos de Jesus que temos que mencionar o Templo de Jerusalém, ou o império Romano, ou Herodes. Assim, é importante ter em mente a seguinte regra: Só abordaremos coisas que estão mencionadas no texto que estamos estudando.

Neste passo metodológico o trabalho pode ser bem grande. Há casos em que temos que falar de toda a dominação romana e sua forma de exploração econômica das províncias dominadas, noutros temos que falar sobre a produção agrícola em determinada região e época, noutros temos que falar sobre os conflitos entre diferentes formas de judaísmo existentes durante os últimos dias do primeiro século na região da palestina, e noutros temos que abordar as relações de clientelismo em cidades greco-romanas como Corinto. Ou seja, a tarefa pode ser árdua, e depende principalmente da capacidade do pesquisador de buscar nos livros as informações relevantes. Para piorar, em várias ocasiões temos que ler coisas que não se limitam à nossa área de pesquisa, como por exemplo, ter que ler livros de historiadores que não se preocupam diretamente com a religião, ou de sociólogos, antropólogos, arqueólogos...

Enfim, é hora de selecionar no texto aquilo que precisa ser elucidado e pesquisar em número grande de livros e artigos, que também precisam ser bem selecionados. Não adianta ler qualquer coisa, a qualidade e atualidade da bibliografia pesquisada é fundamental, sendo que livros ruins citados desprestigiam o trabalho. Isso pode ser difícil; nem sempre nossa biblioteca particular é suficiente, e temos que visitar bibliotecas, livrarias, consultar a internet, encomendar livros importados... Quanto maior a dedicação do pesquisador, melhor sairá sua exegese neste ponto.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

NOVO ARTIGO PUBLICADO: SEMPRE TENDES OS POBRES (Mt 26.6-13)



Desta vez convido-os a ler um novo artigo meu que foi publicado pela revista Caminhando, da Universidade Metodista. O título é: “Sempre tendes os pobres convosco”: Jesus é contra a caridade em Mateus 26.6-13? O artigo faz parte da minha incansável pesquisa sobre o projeto econômico do evangelho de Mateus, está belíssimo (na minha opinião).

Essa é uma revista cujos autores são de qualidade, todos mestres ou doutores, e possui uma versão impressa muito bonita, que pode ser assinada ou adquirida individualmente pelos interessados (capa ao lado). Mas os artigos também estão disponíveis gratuitamente em pdf. O meu artigo pode ser baixado em:

https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/issue/view/134

INTERPRETAÇÃO BÍBLICA PASSO A PASSO – ADOTANDO UMA TEORIA LITERÁRIA

Para cada texto bíblico há teorias que procuram explicar sua origem, sua data, sua nacionalidade, seu propósito... Mas a verdade é que os textos bíblicos em geral não possuem referências claras para responder a qualquer uma dessas perguntas, e por isso o que temos são teorias, hipóteses, e não certezas.

Todavia, teorias não são meros palpites; são explicações baseadas nas análises dos dados disponíveis que oferecem respostas ao menos provisórias, e com certeza é melhor ter uma teoria do que ficar sem nenhuma. Assim, costumo dizer que quando lidamos com a Bíblia temos que estudar as teorias e adotar uma, e só se pode dizer que alguma teoria é falsa e rejeitá-la quando temos outra teoria que a supere.

No meu caso, como estudioso de Mateus, adotei a teoria de que o autor não é o apóstolo de Jesus, não foi testemunha ocular dos fatos. Também aceito a hipótese de que foi escrito entre as décadas de 80 e 90 do primeiro século, e em algum centro urbano da Galiléia, provavelmente Tiberíades ou Séforis. A partir dessas informações interpreto o conflito com os fariseus, o problema econômico e a construção de identidade do grupo de Mateus. Assim, a teoria adotada, tirada de conclusões próprias e da comparação de diversas outras teorias anteriores, me dá recursos para ler o evangelho, e no futuro poderei até mudar de idéia quanto à validade dessa teoria literária, mas para isso teria que adotar outra, ou as palavras do livro ficam no ar.

Enfim, temos que ler o que outros falam sobre nosso texto. Lemos introduções ao Novo e Antigo Testamentos, as primeiras partes de comentários e outros livros especializados no assunto; então fazemos nossas escolhas e aplicamos as teorias sobre data, lugar geográfico, autoria etc, ao estudo do texto bíblico.