quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O QUE NÃO PERGUNTAR PARA A BÍBLIA

Às vezes nós nos comportamos mal diante da Bíblia, exigimos dela o que ela não pode nos dar, e as conseqüências são trágicas para as nossas leituras. Somos como crianças que não sabem brincar com o animal de estimação; embora consideremos o filhote um ser adorável, tê-lo nas mãos significa risco de vida para ele. Por sorte, a Bíblia é um livro, e mesmo que ela seja constantemente feria de morte, ela sobrevive e ganha novo fôlego nas mãos dos bons leitores.

Nesta postagem eu quero falar de uma das perguntas que não devemos fazer quando lemos a Bíblia. Existem muitas perguntas, mas vou limitar-me a uma única, deixando outras para momentos futuros. A pergunta que não se deve fazer a Bíblia de hoje é esta: “Como é que o autor sabe isso?”.

Pode parecer bobagem à primeira vista, mas essa pergunta é freqüente, e quando a fazemos em momentos impróprios, geralmente criamos respostas para satisfazê-la. Depois de feita a pergunta, preferimos respostas absurdas à dúvida, e nesse momento nosso texto sofre.

Os exemplos vão esclarecer o que pretendo dizer: Quando você lê Gênesis 1, o relato da criação de todas as coisas, nunca deve perguntar como é que alguém ficou sabendo como as coisas aconteceram antes de existirmos. A resposta errada seria que Deus o revelou por meio de algum fenômeno religioso inexplicável que hoje não acontece mais. É uma resposta fraca, que manterá você, o leitor, acreditando que o texto pretende narrar fatos reais, enquanto temos um texto mitológico que pretende somente legitimar a guarda do sábado como estatuto divino estabelecido desde as origens.

Nesse caso, um bom leitor não pergunta, acredita que o narrador sabe de todas as coisas, que é onisciente como sempre acontece nas narrativas. Aí ele mergulha na história como uma criança mergulha numa fábula, e se deixa conduzir à conclusão de que Deus criou todas as coisas e santificou o sábado desde então. Ao fechar o livro, assim como a criança saberá separar a ficção da realidade e não procurará por animais falantes, você também saberá que quem escreveu o texto não viu a criação e que por isso tudo o que ele disse é apenas uma história, mas compreenderá que ele, ao escrever, já sabia onde queria chegar, na defesa da santidade do sétimo dia.

Então, nunca devemos questionar um narrador quando ele diz o que alguém pensava em segredo, ou como ele é capaz de saber o que se passa em vários lugares ao mesmo tempo, ou porque só ele sabe exatamente qual a opinião de Deus sobre cada evento, ou como ele é capaz de lembrar discursos extensos palavra por palavra. A verdade é que o narrador está utilizando-se de recursos narrativos e você só entenderá a história se mergulhar nela despreocupado com a veracidade das afirmações. Deixe o narrador lhe conduzir, só depois tire conclusões.

Um comentário:

Sérgio Sanchez disse...

Anderson é um exercício diário, as vezes me pego enquadrado nisto, mas logo percebo a preoculpação desnecessária.....
abraços