sexta-feira, 16 de julho de 2010

A MULHER QUE UNGIU JESUS – (Parte XIII)

“Pois lançando este perfume sobre o meu corpo, para o meu sepultamento fez”. Este é v. 12, que com apenas uma frase encerra a fala de Jesus e uma seção da narrativa, podemos dizer que nele é que Jesus mostra a razão de sua aprovação em relação à ação da mulher mais abertamente. O Jesus do texto, como já mencionamos, sabia de sua morte próxima e vê a unção que recebeu como um ato de preparação para a cerimônia fúnebre. Lendo o texto dentro do contexto da paixão, descobrimos que agora o que está em jogo é a perseguição dos inimigos, a morte na cruz, a ressurreição... Não parece sensato nesta ocasião fazer suposições que se distanciam demais desses temas. A unção imposta a Jesus pela mulher deve ser interpretada como a preparação antecipada de um corpo para seu sepultamento, e nada mais.

Vamos nos aprofundar mais nisso fazendo uma pequena análise do contexto maior, isto é, comparando o sentido de nossa perícope com a mensagem de todo o evangelho. Este passo metodológico exige que conheçamos o livro de maneira abrangente para evitar que defendamos hipóteses equivocadas com base em poucos versículos isolados.

Com o que estudamos até aqui, diríamos que para o evangelho de Mateus como um todo, escrito quando a oportunidade de se fazer o bem a Jesus já se esgotara há décadas (80-90 d.C.), o apelo para se fazer o bem aos pobres é que está em vigor. Isso se confirma principalmente pela leitura de Mt 25.31-46 (texto exclusivo do evangelho de Mateus), onde ensina-se que a maneira de servir a Jesus no mundo agora é servindo aos “pequeninos”. Assim, quem dá de comer ao faminto, por meio dele alimenta Jesus; quem hospeda um forasteiro, dá também acolhida a Jesus; quem veste o pobre que está nu, está vestindo Jesus, e assim por diante. Não que Jesus passou a ser após a crucificação uma pessoa carente dessas coisas, o que se pretende com esse texto é transmitir toda boa ação, seja ela motivada por gratidão a Jesus ou pelo senso de responsabilidade social, às pessoas com que os leitores conviviam. Então o texto de Mt 26.6-13, onde focamos nosso estudo, não pode ser usado para se afirmar que Jesus dava pouco valor à ação social. Quando ele diz que os pobres eles sempre teriam, temos uma frase que deve ser lida a partir do momento que se passa, às vésperas da morte de Jesus. O texto está dizendo que naqueles dias, que já não existem mais, fazer o bem a Jesus era a maior de todas as prioridade; mas aquele tempo passou.

Temos que ter em mente que Jesus já não existia (ao menos corporalmente) para os leitores do evangelho, e que a ação da mulher, ainda que defendida por Jesus, não poderia ser imitada outra vez. O que se deveria imitar não é a atitude da mulher, mas sua fé, que a levou a ungir o corpo ainda vivo de Jesus.

A principal pergunta a ser respondida pela exegese era exatamente esta: Mateus 26.6-13 diminui a responsabilidade social do leitor? A resposta é não. A seguir, vamos encerrar finalmente nossa exegese falando de seu último versículo.

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