segunda-feira, 12 de julho de 2010

A MULHER QUE UNGIU JESUS – (Parte XII)

Quando nas postagens anteriores falamos da creia como o modelo literário adotado pelo autor para construir a narrativa da unção de Jesus em Betânia, afirmamos que a sentença ou máxima conclusiva deta creia estava concentrada no v. 11, e que esta, na versão de Mateus, possui características da poesia semítica. Comprovar essa afirmação exige de nós, exegetas, uma análise das formas, do paralelismo utilizado na construção de tal sentença, que dá à máxima o dito semitismo. Vejamos as diferenças e semelhanças dessa sentença no quadro abaixo, e notemos como estas destacam a “oportunidade” reduzida de se fazer o bem a Jesus, motivo pelo qual o ato da mulher foi aprovado por Jesus:

pois

sempre tendes

os pobres

convosco

mas

nem sempre tendes

a mim

convosco

Se lermos a mesma passagem na versão de Mc 14.7, veremos que ali esta questão da oportunidade é ainda mais clara, pois está escrito também “... e quando quiserdes podereis a eles fazer bem...”. Parece-nos, também com base no quadro acima, que a motivação do autor de Mateus para eliminar tais palavras se deve apenas às suas preferências formais, ou seja, ele as excluiu para criar um paralelismo semítico neste ponto, fortalecendo as palavras de Klaus Berger citadas anteriormente sobre as possibilidades das sentenças das créias judaicas. Concluímos que consciente de que estava trabalhando sob uma créia, o evangelista deu destaque à sentença que responde os discípulos e apóia a mulher, fazendo dela uma espécie de dito sapiencial das vésperas da Paixão Cristo que saltava aos olhos semíticos pela sua repetição poética.

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