Meu título já traz uma pergunta, e sugiro que antes de ler o que tenho a dizer, reflita a respeito da questão e ofereça a si mesmo uma resposta. Enquanto pensa, saiba que esta resposta depende em grande medida do que você entende por idolatria. Não quero entrar em discussões sobre teologia sistemática, mas para não deixar termo tão importante sem nenhuma definição, adotemos provisoriamente uma bem simples: idolatrar algo é prestar culto ou adorar algum ídolo, um objeto que em determinado meio representa uma divindade. O idólatra é aquele que, por não poder ou não saber relacionar-se com sua divindade diretamente, adota algo em seu lugar, e este algo, é o que chamamos de ídolo.
É provável que você tenha pensado em algumas formas de religião contemporâneas que estimam determinados objetos para dizer se hoje existe idolatria, mas essa não é a resposta que eu ofereço à pergunta inicial. Para chegar até minha resposta, vou procurar expor com minhas próprias palavras uma teoria que em 2008 ouvi de um professor, o Dr. Jung Mo Sung. Não sei se o próprio Jung Mo Sung já registrou tal idéia nalgum trabalho, e por isso é importante fazer referência a ele, que é o verdadeiro autor desta reflexão.
Eu começo afirmando que nós, por mais religiosos que possamos ser, como homens não conhecemos nem jamais poderemos conhecer a Deus. Se há um Deus e se ele é tão grande quanto dizemos, aí então é que somos obrigados a reconhecer que esta grandeza imensurável não poderia ser conhecida ou plenamente compreendida por qualquer ser humano. Talvez alguém realmente tenha tido suas experiências místicas, suas viagens celestiais, suas visões; mas tais “experiências” não podem ser mais que vislumbres. Embora hoje seja tão comum ouvirmos falar em “intimidade com Deus”, penso que no máximo podemos experienciar algo entre a reverência temerosa do Pentateuco e a certeza de missão que o Novo Testamento apresenta através das narrativas sobre Jesus.
A verdade é que cada um de nós cria uma representação pessoal de Deus. Para uns, que vivem fora de qualquer igreja e que nunca leram a Bíblia, talvez ele seja apenas um administrador invisível do mundo em que vivemos. Para outros, marcados pelas fortes narrativas do Antigo Testamento, ele é acima de tudo um juiz implacável que conta as horas esperando pelo dia do grande julgamento, em que finalmente os pecadores padecerão. Há ainda os modernos evangélicos que são íntimos de Deus, que querem seu toque (que hoje já não mata ninguém), seu carinho, seu amor. Não posso dizer que qualquer um desses muitos deuses criados pela imaginação humana (a partir de sua experiência particular, é claro), é completamente falso ou verdadeiro; não há como avaliar tal coisa.
O ponto principal é que, seja qual for a idéia que temos sobre Deus, trata-se de uma idéia incompleta, limitada, e que fala muito mais sobre nós mesmos do que sobre um suposto Deus. O problema que queremos levantar é que, se este Deus que criamos não é Deus, mas uma imagem humana, limitada às possibilidades da nossa mente e condicionada por nossa existência, adorar este Deus como se fosse o único e verdadeiro Deus é também uma forma de idolatria. Ora, ainda que meu deus possa não possuir forma material, ele é tão fraco como representação da divindade quanto qualquer estátua; é um deus humano, e talvez, quando insisto em adorá-lo estou fazendo o mesmo que aqueles que colocaram suas idéias sobre Deus numa forma material.
Esta era a teoria do professor Jung que queríamos trazer. Quer dizer que todo deus que porventura adoramos não é deus; que toda forma de divindade que podemos conceber por obras artísticas, palavras, canções, ou mesmo pensamentos, é uma espécie de ídolo que quer representar o verdadeiro Deus para nós. Assim sendo, em todas as formas de religiosidade há idolatria, posto que cada religião institucionalizada oferece aos “fiéis” uma imagem divina que lhes parece mais crível. Por isso, eu diria que estamos vivendo num tempo em que a idolatria atingiu proporções nunca vistas, pois se nos dias do Antigo Testamento os homens diziam que era impossível ver Deus, ouvir sua voz, ou ter qualquer contato direto com ele sem ser exterminado, a religiosidade moderna insiste que devemos nos aproximar pessoalmente de Deus, e com arrogância jamais vista, afirma conhecê-lo.
Parece loucura toda esta discussão? Que solução poderíamos sugerir para os muitos religiosos que só querem conhecer a Deus? Quiçá o melhor a fazer é procurar viver como quem é conhecido, mas não conhece, tendo como inestimável privilégio cada possível experiência religiosa. Imaginemos uma religião formada por ignorantes assumidos, que são mais humildes quando ensinam, já que não podem afirmar nada sobre Deus e nem questionar as opiniões alheias. Imaginemos uma religião de pessoas que não levam tão a sério as leis eclesiásticas, já que não sabem se foi Deus mesmo que legou qualquer uma delas aos homens. Uma religião de pessoas que sem se envergonhar, sentem-se desconfortáveis quando oram, pois não sabem se alguém os ouve, não sabem para onde olhar, que expressão corporal assumir, nem sabem com que tom de voz devem falar. E imagine pessoas que se esforçam por fazer o que lhes parece bom, sem saber de verdade se haverá outra vida, se haverá recompensas ou castigos, mas que se deixaram encher de um espontâneo anseio por contribuir com o criador desse maravilhoso mundo, seja ele quem for, e que por isso querem tornar este lugar melhor através de seus pequenos atos.
Se alguém é capaz de viver tal religiosidade, admita, é porque realmente tem fé. Os demais talvez sigam suas religiões por medo do inferno, por ambição, por soberba, por hábito... mas os que conseguem abandonar qualquer forma de idolatria, apenas seguem.
É provável que você tenha pensado em algumas formas de religião contemporâneas que estimam determinados objetos para dizer se hoje existe idolatria, mas essa não é a resposta que eu ofereço à pergunta inicial. Para chegar até minha resposta, vou procurar expor com minhas próprias palavras uma teoria que em 2008 ouvi de um professor, o Dr. Jung Mo Sung. Não sei se o próprio Jung Mo Sung já registrou tal idéia nalgum trabalho, e por isso é importante fazer referência a ele, que é o verdadeiro autor desta reflexão.
Eu começo afirmando que nós, por mais religiosos que possamos ser, como homens não conhecemos nem jamais poderemos conhecer a Deus. Se há um Deus e se ele é tão grande quanto dizemos, aí então é que somos obrigados a reconhecer que esta grandeza imensurável não poderia ser conhecida ou plenamente compreendida por qualquer ser humano. Talvez alguém realmente tenha tido suas experiências místicas, suas viagens celestiais, suas visões; mas tais “experiências” não podem ser mais que vislumbres. Embora hoje seja tão comum ouvirmos falar em “intimidade com Deus”, penso que no máximo podemos experienciar algo entre a reverência temerosa do Pentateuco e a certeza de missão que o Novo Testamento apresenta através das narrativas sobre Jesus.
A verdade é que cada um de nós cria uma representação pessoal de Deus. Para uns, que vivem fora de qualquer igreja e que nunca leram a Bíblia, talvez ele seja apenas um administrador invisível do mundo em que vivemos. Para outros, marcados pelas fortes narrativas do Antigo Testamento, ele é acima de tudo um juiz implacável que conta as horas esperando pelo dia do grande julgamento, em que finalmente os pecadores padecerão. Há ainda os modernos evangélicos que são íntimos de Deus, que querem seu toque (que hoje já não mata ninguém), seu carinho, seu amor. Não posso dizer que qualquer um desses muitos deuses criados pela imaginação humana (a partir de sua experiência particular, é claro), é completamente falso ou verdadeiro; não há como avaliar tal coisa.
O ponto principal é que, seja qual for a idéia que temos sobre Deus, trata-se de uma idéia incompleta, limitada, e que fala muito mais sobre nós mesmos do que sobre um suposto Deus. O problema que queremos levantar é que, se este Deus que criamos não é Deus, mas uma imagem humana, limitada às possibilidades da nossa mente e condicionada por nossa existência, adorar este Deus como se fosse o único e verdadeiro Deus é também uma forma de idolatria. Ora, ainda que meu deus possa não possuir forma material, ele é tão fraco como representação da divindade quanto qualquer estátua; é um deus humano, e talvez, quando insisto em adorá-lo estou fazendo o mesmo que aqueles que colocaram suas idéias sobre Deus numa forma material.
Esta era a teoria do professor Jung que queríamos trazer. Quer dizer que todo deus que porventura adoramos não é deus; que toda forma de divindade que podemos conceber por obras artísticas, palavras, canções, ou mesmo pensamentos, é uma espécie de ídolo que quer representar o verdadeiro Deus para nós. Assim sendo, em todas as formas de religiosidade há idolatria, posto que cada religião institucionalizada oferece aos “fiéis” uma imagem divina que lhes parece mais crível. Por isso, eu diria que estamos vivendo num tempo em que a idolatria atingiu proporções nunca vistas, pois se nos dias do Antigo Testamento os homens diziam que era impossível ver Deus, ouvir sua voz, ou ter qualquer contato direto com ele sem ser exterminado, a religiosidade moderna insiste que devemos nos aproximar pessoalmente de Deus, e com arrogância jamais vista, afirma conhecê-lo.
Parece loucura toda esta discussão? Que solução poderíamos sugerir para os muitos religiosos que só querem conhecer a Deus? Quiçá o melhor a fazer é procurar viver como quem é conhecido, mas não conhece, tendo como inestimável privilégio cada possível experiência religiosa. Imaginemos uma religião formada por ignorantes assumidos, que são mais humildes quando ensinam, já que não podem afirmar nada sobre Deus e nem questionar as opiniões alheias. Imaginemos uma religião de pessoas que não levam tão a sério as leis eclesiásticas, já que não sabem se foi Deus mesmo que legou qualquer uma delas aos homens. Uma religião de pessoas que sem se envergonhar, sentem-se desconfortáveis quando oram, pois não sabem se alguém os ouve, não sabem para onde olhar, que expressão corporal assumir, nem sabem com que tom de voz devem falar. E imagine pessoas que se esforçam por fazer o que lhes parece bom, sem saber de verdade se haverá outra vida, se haverá recompensas ou castigos, mas que se deixaram encher de um espontâneo anseio por contribuir com o criador desse maravilhoso mundo, seja ele quem for, e que por isso querem tornar este lugar melhor através de seus pequenos atos.
Se alguém é capaz de viver tal religiosidade, admita, é porque realmente tem fé. Os demais talvez sigam suas religiões por medo do inferno, por ambição, por soberba, por hábito... mas os que conseguem abandonar qualquer forma de idolatria, apenas seguem.